Juliana Cacilha, moradora da Vila Sueli em Ribeirão Pires, é uma mulher cuja história inspira superação, fé e força. Desde jovem, demonstrou responsabilidade e garra. Começou a trabalhar aos 14 anos, e aos 19, já era proprietária de uma locadora de vídeos em seu bairro. Enfrentou a separação dos pais e assumiu o cuidado dos irmãos mais novos, sem jamais perder o foco em seus objetivos. Após concluir o ensino médio, iniciou o curso de técnica de Enfermagem, impulsionada pelo desejo genuíno de cuidar das pessoas. Trabalhou em dois empregos, com rotina intensa e exaustiva.
Durante 16 anos, atuou no Hospital Sírio-Libanês, lidando com casos complexos na pediatria: transplantes hepáticos, cirurgias cardíacas e oncologia. Sua rotina era marcada por dedicação extrema. Em paralelo, sempre sonhou em ser mãe. Aos 29 anos, teve sua filha, Ana Julia, fruto de um relacionamento breve. Criou a filha sozinha, mantendo o lar com muito esforço e fé — a mesma fé que lhe deu força ao longo de sua trajetória.
Em um momento de plenitude pessoal — com o a vida financeira estável , cerca de 50 kg a menos, saúde em dia e autoestima elevada — Juliana foi surpreendida. Exames de rotina revelaram algo suspeito. Durante a biópsia, já sentiu que havia algo errado. As lágrimas escorriam enquanto ela permanecia deitada, com o seio encaixado na máquina. Era 26 de dezembro. O resultado chegou diretamente a seu celular: carcinoma. Em choque, recebeu a notícia de que estava com câncer de mama. O chão se abriu, mas o tratamento começou imediatamente.
A luta contra um tumor de 11 cm começou com sessões de quimioterapia severas. A primeira quase lhe tirou a vida. As reações eram intensas, os efeitos colaterais devastadores. Mesmo assim, Juliana sorria, celebrava, acolhia. Perder o cabelo foi um luto à parte. Sentiu na pele o preconceito, mas também conheceu o verdadeiro acolhimento. Três dias após raspar o que restava, um amigo fez fotos que revelaram sua beleza renovada. “Cabelo cresce” nunca foi frase suficiente. Mas onde havia dor, também surgia cura — vinda das pessoas que a amavam.
A cirurgia de mastectomia trouxe uma dor profunda. Juliana se preparou emocionalmente, mas o procedimento não saiu como o esperado. Prometeram duas próteses, ela recebeu uma só. Sentiu-se desfigurada. A depressão chegou forte. Mas, mais uma vez, Deus usou pessoas para resgatá-la. Mulheres da igreja, amigas, família, formaram uma rede de apoio essencial. Curativos diários realizados com o apoio da enfermeira estomaterapeuta Juliana, necrose, dor física e emocional: esse foi o cenário enfrentado durante quase cinco meses de espera até o início da radioterapia, que já estava atrasada.
Mesmo em meio à dor, Juliana se ergueu. Percebeu que outras mulheres passavam por situações semelhantes e não tinham apoio. Organizou um evento que reuniu 200 mulheres e especialistas para debater o câncer de mama. Duas mulheres descobriram a doença precocemente graças àquele encontro. Juliana, ferida, mas de pé, continuou sua missão.
Hoje, um ano e meio depois, ela segue com a hormonioterapia. Ainda carrega sequelas físicas e emocionais. Seu maior sonho é a simetria das mamas, recuperar a autoestima devastada por um procedimento mal conduzido. Após passar por diversos especialistas, finalmente encontrou um médico que compreende suas dores e respeita suas expectativas.
Juliana ainda enfrenta preconceitos, dúvidas e dias difíceis. Mas também vive a beleza da resiliência. Seu Instagram virou espaço de acolhimento para outras mulheres. Ela não se importa em ajudar — sente que foi chamada para isso. Em agosto, enfrentará uma nova cirurgia. Mas está pronta: para lidar com as dores, as opiniões alheias, as lágrimas silenciosas.
Ver Ana Julia, sua filha, completar 15 anos foi um dos sonhos realizados. Um momento mágico, sustentado por mulheres que mais uma vez se levantaram para ajudá-la. Juliana chorou do início ao fim — lágrimas de gratidão e renascimento. Foi esse amor que lhe deu forças para seguir em frente.
A história de Juliana Cacilha não é apenas sobre câncer. É sobre a vida, a fé e a capacidade infinita do ser humano de se refazer, de transformar dor em amor e reconstrução.
