Vagner Freitas é artista, ilustrador e um verdadeiro sobrevivente, não apenas no sentido físico, mas principalmente no simbólico. Natural de Mauá (SP), nascido em 1976, ele cresceu cercado por referências da cultura POP, especialmente nos anos 1980, período que ele considera sua maior fonte de inspiração até hoje. Com 49 anos de idade, Vagner é um exemplo vivo de como a arte pode ser mais do que uma atividade criativa: pode ser uma forma de viver, resistir e renascer.

Desde muito jovem, Vagner demonstrou uma ligação natural com o desenho. Ainda na infância, os cadernos escolares eram preenchidos com personagens de quadrinhos, filmes, desenhos animados e criações próprias. Sempre fascinado pelo universo dos super-heróis, pela estética dos brinquedos, revistas, propagandas e filmes da época, ele passou a desenhar compulsivamente, reproduzindo personagens com olhar detalhista e cheio de personalidade.

Seu talento se destacou entre colegas e professores, especialmente nas charges e caricaturas que fazia em tom de humor e crítica bem-humorada. Ao contrário do que muitos acreditam, ele nunca teve formação formal em arte, é autodidata. Aprendeu observando, praticando, errando e tentando de novo. Essa autonomia construiu sua identidade artística e reforçou sua paixão.

Ainda muito jovem, Vagner entrou no mercado de trabalho e seguiu carreira na indústria, onde permaneceu por anos. A arte, nesse período, permaneceu como um hobby — mas um hobby levado muito a sério. Mesmo com a rotina intensa, encontrava tempo para desenhar, estudar técnicas, experimentar materiais e continuar desenvolvendo sua habilidade de forma disciplinada.

Em determinado momento, tentou empreender profissionalmente no ramo da ilustração, mas, como ele mesmo conta, enfrentou dificuldades e acabou deixando os projetos de lado. Com as pressões da vida adulta e responsabilidades familiares, a arte passou a ser algo que faria “quando desse” e esse momento raramente chegava. A frustração se acumulava de forma silenciosa, até que o corpo e a mente começaram a cobrar o preço.

Em 2012, Vagner passou por uma experiência de vida extrema. O estresse, somado ao acúmulo de obrigações e à ausência de momentos de descanso e prazer genuíno, resultou em um quadro grave de saúde. A internação hospitalar foi um divisor de águas. Na solidão do hospital, veio o arrependimento: “Eu podia ter desenhado mais”, pensava. “Poderia ter usado a arte para aliviar a pressão e a ansiedade.”

Num dos momentos mais delicados, Vagner fez um pedido simples, mas simbólico, à sua esposa Vanessa: que levasse papel e lápis de cor ao hospital. Com o pouco que tinha em mãos, desenhou uma boneca Barbie para sua filha Ana Luísa. Era um gesto de amor, mas também de despedida, ele não sabia se aquele seria seu último desenho. Foi então que fez uma promessa: se saísse daquela situação, desenharia toda semana, sem exceções. E assim foi. Vagner se recuperou e iniciou uma nova fase em sua vida, não apenas no sentido físico, mas espiritual e emocional. A arte deixou de ser apenas um hobby adiado e passou a ocupar um espaço central em sua rotina.

Começou a explorar técnicas com mais profundidade, mergulhando em estilos diversos. Do realismo ao cartum, passando por lápis de cor, aquarela, marcadores, nanquim e técnicas mistas, Vagner passou a se desafiar constantemente. Voltou a desenhar personagens, fez retratos com riqueza de detalhes, explorou luz e sombra, texturas e expressões. Mais do que estética, buscava emoção e conexão em cada trabalho.

Mais recentemente, Vagner decidiu retomar profissionalmente a caricatura, a forma de arte que já praticava na juventude e que sempre arrancou sorrisos das pessoas ao seu redor. Agora, com uma bagagem muito mais sólida, técnica refinada e uma história inspiradora para contar, ele começou a atuar como caricaturista profissional em eventos, festas, feiras e por encomenda.

Com o apoio incondicional da esposa Vanessa e da filha Ana Luísa, que sempre estiveram ao seu lado nos momentos mais difíceis, Vagner tem levado alegria a centenas de pessoas através de sua arte. Suas caricaturas combinam humor, leveza e sensibilidade, transformando traços simples em retratos carregados de personalidade e emoção. Seu trabalho emociona porque carrega verdade, uma verdade conquistada com luta, dor, superação e amor.

Hoje, Vagner Freitas é mais do que um artista. É um símbolo de resiliência, de reinvenção, de reencontro com aquilo que realmente importa. Sua arte não é apenas técnica ou talento: é um testemunho de vida. E, por isso, cada traço seu carrega uma mensagem silenciosa, mas poderosa: nunca é tarde para se reconectar com o que te faz feliz.

Para quem vê suas obras, talvez pareça apenas uma caricatura divertida. Mas, para ele, cada desenho é também um lembrete de que está vivo, de que venceu e de que nunca mais vai deixar a arte para “quando der”.

Rafael Marques