Sérgio Leite Medeiros nasceu em Paranapiacaba, uma vila que respira história e tradição ferroviária. Filho e neto de ferroviários, cresceu ao lado dos trilhos da antiga RFFSA, cenário que mais tarde influenciaria profundamente sua sensibilidade artística. Desde cedo demonstrou interesse pelo desenho e pelas formas visuais, e seu primeiro emprego formal como desenhista foi em 1980, na Prefeitura de Ribeirão Pires. Pouco tempo depois, em 1981, ingressou na própria Rede Ferroviária Federal, onde atuou como desenhista projetista até 1996. Essa longa experiência no universo técnico do desenho e da engenharia consolidou uma base sólida que viria a se refletir com riqueza de detalhes em sua trajetória nas artes visuais.

Buscando aprimorar constantemente sua técnica e visão criativa, Sérgio construiu uma formação acadêmica e técnica admirável. Graduou-se na Faculdade de Desenho Industrial de Mauá (FADIM) e complementou sua formação com cursos diversos em instituições de renome. Entre eles, destacam-se o curso de Desenho Arquitetônico na Escola 28 de Julho, Desenho Artístico e Publicitário na Escola Nacional de Desenho (END), e Arte Publicitária e Ilustração na Escola Panamericana de Arte (EPA), onde foi reconhecido com Menção Honrosa. Também aprofundou seus conhecimentos em Caricatura e Cartoon, bem como em História em Quadrinhos, ambos realizados no SENAC. Demonstrando um perfil multidisciplinar, ainda investiu em formações como o curso de Produção Gráfica e Visual no Museu da Casa Brasileira (MCB), Desenho Técnico e Topográfico no SENAI, e formação técnica em Edificações pelo CREA, além de uma pós-graduação em Gestão com ênfase em Negócios pela Fundação Dom Cabral.

Sua carreira nas artes visuais começou a ganhar projeção pública nos anos 1990, com participações em exposições coletivas e eventos culturais que marcaram sua inserção na cena artística da região. Em 1994, participou da Coletiva Afro-Brasileira no Nacional Atlético Clube. No ano seguinte, esteve presente na Sexta-Feira Cultural, realizada na Paróquia Nossa Senhora Achiropita. Em 1996, apresentou seus trabalhos na Coletiva de Arte da Biblioteca Municipal do Ipiranga. Com forte vínculo afetivo com Paranapiacaba, participou de várias edições da Semana do Ferroviário, entre 1997 e 1999, evidenciando sua conexão com as memórias da vila onde nasceu. Em 1999, foi homenageado com Menção Honrosa durante a Semana Benedicto Calixto, em Itanhaém, e integrou eventos mensais de arte na Praça dos Imigrantes, em Ribeirão Pires, levando sua obra ao contato direto com o público.

Mesmo após sua aposentadoria, Sérgio Leite manteve-se intensamente produtivo. Em 2023, foi destaque na exposição “Paisagens Vividas”, promovida pelos sindicatos dos metalúrgicos de Santo André, São Bernardo do Campo e Diadema. No ano seguinte, integrou a exposição “Olhares”, organizada pelo Coletivo de Artistas de Ribeirão Pires (CARP), reafirmando sua atuação ativa e contemporânea no meio artístico da região. Ao longo de sua carreira, consolidou um estilo plural e coerente, no qual o desenho, a pintura e a escultura coexistem com harmonia. Suas obras revelam não apenas uma técnica apurada, mas também uma narrativa visual rica em memória, sentimento e observação da vida cotidiana.

Os cenários que compõem seu imaginário artístico muitas vezes remetem à Paranapiacaba, com sua neblina característica, as casas de madeira e os trilhos de trem que parecem conduzir tanto ao passado quanto à introspecção. A influência ferroviária não está apenas nos temas, mas também no olhar atento ao detalhe, na precisão do traço, no apreço pelas estruturas e paisagens. Sérgio também transita com desenvoltura por linguagens mais críticas e bem-humoradas, como a caricatura e o cartum, e outras mais líricas, como a pintura e a escultura figurativa.

Com uma trajetória marcada por dedicação, estudo e paixão pelas artes, Sérgio Leite Medeiros é hoje reconhecido como uma figura importante na produção artística do ABC Paulista. Sua arte é ao mesmo tempo expressão pessoal e memória coletiva; uma maneira de manter viva a história de sua cidade, da ferrovia e das pessoas que habitam esses espaços. Ao transformar lembranças em imagens e sentimentos em formas, o artista oferece ao público uma obra autêntica, sensível e atemporal. Sua vida é prova de que a arte pode brotar de qualquer terreno — até mesmo dos trilhos frios e esquecidos de uma antiga estação.

Rafael Marques

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