Jenyffer Jacques sempre foi movida pelo corpo em movimento e pela alma inquieta. Desde cedo, sua vida era pautada por atividades físicas intensas: caminhadas, corridas, trilhas e escaladas eram parte da sua rotina. Viver ao ar livre e explorar os limites do próprio corpo era algo natural, quase como respirar. No entanto, no final de 2024, sua vida tomou um rumo inesperado.

Foi em novembro daquele ano que os primeiros sinais começaram a aparecer. Febres recorrentes, enjoos constantes, pressão arterial baixa e uma sensação geral de mal-estar começaram a interferir em sua vida ativa. A busca por ajuda médica levou a um diagnóstico inicial de pneumonia. No entanto, algo não parecia certo. O raio-X levantou suspeitas: seu coração parecia “muito pequeno”, o que levou o médico a encaminhá-la a um cardiologista.

O tempo passou e, mesmo após o tratamento para pneumonia, a melhora não veio. Em fevereiro, ainda sem conseguir atendimento com um cardiologista pelo sistema público e já muito debilitada, Jenyffer optou por uma consulta particular em Ribeirão Pires. Foi nesse momento que a verdade veio à tona: o exame feito meses antes mostrava, na verdade, um tumor. Um linfoma localizado no mediastino — região entre o pulmão e o coração — que estava comprimindo os órgãos vitais.

O impacto do diagnóstico foi avassalador. O tumor já se espalhava por linfonodos no pescoço, axilas e virilhas. Com sintomas cada vez mais severos, como perda significativa de peso, vômitos constantes, suores noturnos intensos e fraqueza extrema, sua qualidade de vida despencou. Já era difícil andar, falar e até engolir alimentos. Em pouco tempo, ela chegou a depender da mãe para tudo: tomar banho, se alimentar, se vestir. A fase mais grave a levou ao estágio 3 do linfoma, dos quatro existentes.

Mas Jenyffer não desistiu. Apesar da burocracia e das dificuldades do sistema de saúde, a esperança veio pelas mãos de uma secretária de saúde de sua cidade, Rio Grande da Serra, que ao tomar conhecimento de sua história, conseguiu uma vaga para tratamento no Hospital Mário Covas. Foi um ponto de virada. Após nova bateria de exames, em maio de 2025, ela iniciou seu tão esperado tratamento de quimioterapia.

O corpo, antes dominado pela doença, começou a dar sinais de recuperação. O tratamento, com um total de seis ciclos de quimioterapia, trouxe não só melhoras físicas, mas também emocionais. Jenyffer já caminha novamente, retomou peso — chegou a perder 14 quilos —, iniciou fisioterapia e acompanhamento nutricional. Mesmo em meio ao processo, ela se considera curada, com a certeza de que está vencendo a batalha.

Contudo, a luta de Jenyffer não foi enfrentada apenas com remédios e médicos. Ela teve uma aliada poderosa ao seu lado: a arte. Desde os 12 anos, ela desenvolve trabalhos manuais com técnicas de artesanato como crochê, tricô, pintura e bordado. Na adolescência, enfrentou uma fase de depressão, e foi sua mãe quem a incentivou a participar de um “clube de mães” local. Ali, entre linhas, tecidos e conversas com senhoras experientes, ela descobriu um refúgio criativo, um espaço de cura.

Durante seu tratamento oncológico, a arte mais uma vez surgiu como fonte de equilíbrio emocional. Foi quando começou a pintar pratos como presente para amigos, e as encomendas começaram a surgir naturalmente. Aquilo que nasceu de forma despretensiosa transformou-se em mais do que uma atividade: tornou-se propósito. Pintar, criar, transformar materiais simples em beleza ajudou-a a manter a mente ocupada, a autoestima em alta e o espírito fortalecido.

“Durante o tratamento a gente tem muito essa dificuldade de autoestima, de se sentir útil, de ocupar a cabeça. Isso é muito importante, e para mim tem sido essencial”, ela afirma. Em um momento em que tantas pessoas se perdem nas angústias da doença, Jenyffer encontrou na arte um fio condutor para sua saúde mental e emocional.

Hoje, aos 29 anos, ela encara a vida com uma nova perspectiva. Mais do que sobreviver, ela vive com intensidade, propósito e gratidão. Sua trajetória é marcada por dor, sim — mas, acima de tudo, por resiliência, coragem e sensibilidade. Jenyffer Jacques é a prova viva de que, mesmo quando tudo parece desmoronar, é possível encontrar força nas coisas mais simples: a fé, a arte, e o amor das pessoas ao redor.

E como ela mesma diz, “a arte me salvou uma vez… e está me salvando de novo.”

Rafael Marques

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