A Pinacoteca de Ribeirão Pires se prepara para receber, a partir de 20 de novembro, uma das exposições mais marcantes dos últimos anos: “Cores da Serra, expressões do cotidiano”, uma potente expressão artística fruto do olhar sensível e atento do artista visual Ronam Santos. O projeto, que nasceu em 2023 com o objetivo de registrar e enaltecer o cotidiano das pessoas simples da região do Grande ABC, chega agora à sua maturidade em forma de mostra, reunindo 25 retratos pintados a óleo sobre papel Kraft. Cada imagem revela, com delicadeza e verdade, a vida que pulsa nos rostos de trabalhadores, crianças, jovens e idosos de Rio Grande da Serra.
O embrião do projeto foi a pintura de um mural no bairro Santa Tereza, retratando o “Seu João das Panelas”, personagem emblemático da cidade, cuja vida é dedicada a consertar utensílios domésticos — panelas, fogões, ferramentas. O mural, de 6 metros de altura por 5 metros de largura, chamou a atenção não apenas por sua dimensão, mas pela forma como a figura humana foi ali representada: com dignidade, poesia e afeto. Ao lado da imagem, os versos do poeta Sagat Jorge completavam a narrativa visual, conferindo ao cotidiano do trabalhador uma dimensão épica, quase mitológica. A obra repercutiu de maneira surpreendente entre os moradores e além, tornando-se um ponto de referência cultural da cidade.
Com o impacto positivo do mural, Ronam e Sagat perceberam que havia um espaço a ser ocupado pela arte que se conecta com a vida real, com o que é vivido no chão das ruas. Assim, no ano de 2024, o projeto cresceu e novos artistas se somaram à proposta: Pamela, André e Jessica Pina, cada um trazendo diferentes linguagens e perspectivas. Com o apoio da Lei Paulo Gustavo, o grupo decidiu avançar além da pintura e da poesia, abrindo espaço para a linguagem audiovisual. Dessa forma, o curta-metragem “Cores da Serra” nasceu, registrando não apenas as obras visuais, mas principalmente as vozes e histórias dos retratados, seus familiares e pessoas do convívio. O filme não só ampliou o alcance da proposta, como emocionou plateias em diferentes cidades da região.
A repercussão do curta revelou a força do projeto. Não demorou para que veículos importantes como o Diário do Grande ABC e o Jornal Hoje, da Rede Globo, destacassem a iniciativa, que também foi selecionada para um festival de curtas em Paranapiacaba. Essa visibilidade reforçou a relevância social e cultural da proposta, mostrando como a arte pode e deve estar a serviço da valorização da vida cotidiana — especialmente em comunidades frequentemente invisibilizadas.
Agora, na Pinacoteca de Ribeirão Pires, o público terá a oportunidade de se relacionar diretamente com o coração poético e visual do “Cores da Serra”. São 25 retratos — cada um uma história, uma vivência, um olhar. As pinturas, feitas a óleo sobre papel Kraft, trazem a textura da vida real, o peso simbólico do tempo, a densidade das experiências que moldam cada rosto. Há, em cada traço, o gesto cuidadoso de quem se dispõe a ver o outro em profundidade, sem filtros ou estereótipos. Ronam escolhe, com precisão, destacar detalhes que contam muito mais que a imagem: as rugas que revelam jornadas inteiras, os olhares que carregam memória, as expressões que atravessam o silêncio.
Essa exposição, mais do que uma mostra artística, é, na verdade, um convite à reflexão sobre o papel do artista enquanto cronista visual da sua própria gente. “Cores da Serra, expressões do cotidiano” demonstra que a arte pode ser instrumento de justiça simbólica, de afirmação da própria existência, de resistência diante da padronização e do apagamento. Em um mundo em que tantas vidas passam despercebidas, Ronam e seus parceiros mostram que é possível e necessário trazer essas vidas para o centro da narrativa — com respeito, profundidade e beleza.
Visitar essa exposição é, portanto, mergulhar em um universo onde o cotidiano se transforma em obra-prima. É reconhecer que há poesia nas mãos calejadas, que há arte na simplicidade, que há grandeza na vida comum. “Cores da Serra” é uma celebração de tudo isso. Uma mostra que emociona, provoca e restaura em nós a certeza de que a arte, quando brota do povo e retorna para ele, cumpre seu mais poderoso papel: transformar olhares e despertar consciências.
Ao ocupar a Pinacoteca de Ribeirão Pires, o projeto cria também um diálogo entre cidades irmãs, conectando Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires por meio da arte e do pertencimento. É um gesto poético que amplia fronteiras simbólicas, reforçando que a cultura regional é viva, pulsante e carrega consigo histórias que merecem ser vistas, ouvidas e preservadas.
“Cores da Serra, expressões do cotidiano” é mais que uma exposição: é um movimento que dá cor, voz e lugar às pessoas que fazem a vida acontecer, todos os dias, com coragem, trabalho e humanidade. E enquanto houver artistas como Ronam Santos e coletivos que acreditam na força da arte comprometida com a vida real, sempre haverá cores novas pintando as serras, os muros, as telas — e os nossos próprios caminhos.
Exposição “Cores da Serra, expressões do cotidiano”
Abertura a partir de 20/11/2025
Local: Pinacoteca Municipal Guilherme de Carvalho Dias
Endereço: Rua Diamantino de Oliveira, 218 – Centro, Ribeirão Pires (SP)
Venha prestigiar esta mostra que celebra o cotidiano, as histórias da serra e o poder transformador da arte.
