A trajetória de Lilian Zampol é um entrelaçamento delicado entre legado familiar, vocação e reinvenção constante. Sua história se confunde com a própria evolução artística de sua cidade Ribeirão Pires — uma narrativa onde tradição e inovação caminham lado a lado.
Desde a infância, Lilian teve a arte como presença cotidiana. O avô, Ítalo Turiani, artista autodidata e figura notável na comunidade, foi seu primeiro mestre. Em uma época em que o papel de parede era raridade, ele transformava residências em verdadeiras galerias com murais pintados à mão. Utilizando técnicas de máscaras e tintas especiais, deixou uma marca inconfundível na arquitetura local — uma estética que ainda inspira.
Foi aos seis anos, brincando com pincéis e tintas esquecidas do avô, que Lilian deu os primeiros passos na pintura. A convivência com esse ambiente criativo moldou não só sua técnica, mas uma vocação que jamais se apagou. Mais tarde, consolidaria essa paixão com formação acadêmica: cursou Belas Artes, fez pós-graduação em História da Arte e estudou na Escola Panamericana de Arte.
Aos 18 anos, iniciou a docência com pintura em porcelana — conhecida como porcelana quente — técnica que exige delicadeza e precisão. Mais tarde, expandiu sua atuação para a pintura em tela, participando de workshops e cursos, entre eles com o artista Pellegata, de Santos. Essas experiências fortaleceram sua linguagem estética, resultando em um estilo autoral que hoje se aproxima do cubismo, mas com uma assinatura muito própria.
Suas obras se destacam pela textura rica, formas entrelaçadas e paleta vibrante. Há energia em cada composição, um movimento que prende o olhar. Essa identidade visual única a levou a participar de inúmeras exposições e mostras, conquistando prêmios e reconhecimento no circuito artístico.
Mas Lilian não se limitou à produção artística. Em 2009, ingressou na prefeitura de Ribeirão Pires por concurso público, atuando como professora e, depois, como coordenadora da Escola de Artes. Foi protagonista na criação da primeira escola de artes visuais da cidade — até então restrita a núcleos de dança, música e teatro. Em homenagem ao avô, a instituição recebeu seu nome: Ítalo Turiani, selando um tributo ao legado que plantou a semente de sua vocação.
Mesmo após se aposentar em 2019, e de um período de pausa durante a pandemia, Lilian retornou à vida pública em 2022 como comissionada, com a mesma paixão de sempre. Hoje, segue ensinando, produzindo e participando ativamente do meio artístico. Seu currículo é extenso, com menções honrosas, prêmios de aquisição e obras em acervos públicos e privados.
Lilian Zampol é mais do que uma artista — é um elo entre gerações, uma referência de dedicação e amor ao ofício. Para ela, a arte é dom divino. E enquanto houver saúde e fé, ela seguirá contribuindo com sua criatividade, deixando sua marca em cada tela, em cada aluno, em cada espaço transformado pela beleza.
Rafael Marques